Gostava que a minha mudança tivesse acontecido mais cedo. Demorei 20 anos a chegar ao meu “ponto zero”, ao momento em que percebi internamente que já não queria continuar como gestor. E foi mais difícil porque até fazia bem a minha função e fui bem-sucedido na minha carreira. Mas fazer bem e ter sucesso, não conduz necessariamente a felicidade.
Foi preciso sentir-me infeliz e não conseguir visualizar um futuro que fosse diferente. Ou seja, não me conseguia “agarrar” a nada: nem passado, nem presente e nem futuro. Quis passar a ser responsável pelo meu caminho e deixar de depositar a responsabilidade da minha infelicidade profissional nos outros ou nas condições externas.
Mas depois do “ponto zero” as coisas também não foram fáceis (ainda não são 😊). Tinha muitas perguntas sem resposta. O que vou fazer agora? Qual é o meu propósito de vida? Qual a minha paixão? E como é que vou viver disso?
Em vez de me ver como “um problema por resolver” decidi optar pela curiosidade, por me dar atenção e comecei a aproximar-me dos temas que mais me interessavam: consciência, inteligência emocional e desenvolvimento humano. Comecei a investigar como é que se poderia ligar estes temas ao universo das empresas.
Talvez este seja o grande ensinamento que aprendi, não se pode ser feliz a trabalhar se não alinharmos aquilo que somos e acreditamos, com o que fazemos.
Lembro-me bem quando em 2015, em Londres, o meu mentor me disse: ”tu já tens tudo o que precisas”. Na altura queria muito acreditar em mim assim, mas não consegui. Mas o facto dele acreditar, ajudou-me. Na verdade, mesmo antes de o saber, eu já estava ligado ao meu propósito.
Estudei (para acalmar os medos interiores de falta de competência), pensei no que queria fazer e testei. Primeiro em ambiente seguro, depois a sério. Foi perfeito? Longe disso. Mas deu para perceber que estava no caminho certo. Fui ajustando. Fui melhorando.
Depois veio uma parte muito difícil: largar o emprego, a segurança, o ordenado ao final do mês. Dar um passo no desconhecido. Aí todos os meus medos interiores se ativaram. O medo de recomeçar numa área completamente nova para mim e na qual não tinha experiência, o medo de não conseguir viver financeiramente desta atividade, o medo de depender a 100% de mim e finalmente o medo de que aquilo que sou e sei não fosse suficiente. Nem imaginam quão estranho foi, a primeira vez que escrevi que a minha profissão era “coach”. Senti-me diminuído. Como também dava aulas na universidade, muitas vezes escrevi “professor”.
O que me ajudou nessa altura foi já ter feito alguns passos e saber do que gostava.
Acreditei. Arrisquei. Entreguei-me. Mesmo quando sabia menos do que hoje, sempre senti confiança no que estava a fazer.
Adoro aquilo que faço. Faço cada vez melhor.
Se ainda tenho medos? Claro. Todos os dias. Mas hei-de matá-los todos à fome. Um de cada vez…. mas com persistência!
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